terça-feira, 17 de novembro de 2015

A quingentésima

Olha, esta é a mensagem número 500 deste blogue. Vi agora.
Feliz maneira de regressar ao Belgavista. Com a quingentésima mensagem.
Estamos no avião a descer para Bruxelas.
Quando atravessamos as nuvens, o avião estremece e o coração também. É sempre assim.
Chegar a Bruxelas é um tremor no ar.
Felizmente o avião pousa devagarinho. Nada mau.
A noite chove na rua e também na cabeça.
Seguro-me ao corrimão para não escorregar.
As minhas pernas descem e a minha saia sobe. O vento é malandreco.
Chego a casa. Um embrulho aprimorado na caixa do correio. O que é isto?
Ah, é um livro bonito.
Que livro bonito?
O dicionário do menino Andersen.
Uma capa rugosa. Um desenho depurado. De passar os dedos por cima e também a língua.
Pimbas.
Uma lambidela salivada no Gonçalo M Tavares e na Madalena Matoso.
Uma definição do menino Andersen:
MOSQUITO: animal que está mal sintonizado.
Nada mais certeiro para acabar com a noite.
Acordo com as sirenes e tomo banho. Lavo-me por cima e por baixo. Barro manteiga nas torradas, bebo café com leite, leio uma fatia da revista LER. Tudo ao som das sirenes. Ti-nó-ni.
Saio de casa.
O sol lá em cima não chega cá abaixo: lá no alto é de dia; cá em baixo é de noite.
A meio da rua as sirenes calam-se. Talvez por causa dos meus auscultadores. Não sei.
Uma perguntinha com a ajuda do público. O que explode mais rápido: um autocarro ou uma carruagem do metro? Escolho o autocarro.
Ficamos parados no trânsito. Espero de pé como os outros.
Militares na rotunda das instituições europeias. Com uma arma ao colo e uma mochila às costas.
Digo Bonjour quando entro no edifício. Ah, que espanto. Ainda não tinha falado franciú.
Há sirenes em Bruxelas.
Chuva. Trânsito.
E terroristas.


Não tinha saudades disto.
Mas até tinha saudades disto.
Estou mal sintonizada.