sexta-feira, 6 de março de 2015

Rapariga em Osaka

Uma rapariga caminha na minha direção.
Olha em frente, no vazio.
Entre mim e a rapariga há uma recta que é cada vez mais pequena.
Eu e a rapariga caminhamos na direção uma da outra.
A rapariga tem cabelos negros e uma franja rectilínea mesmo em cima dos olhos.
Os olhos também são rectilíneos.
Na franja da rapariga vem pendurado um gancho roxo, que também é uma recta.
É um gancho inútil, que não prende o cabelo a lado nenhum.
Vem só pendurado na franja, como um alfinete, como uma coisa qualquer.
A rapariga traz um desequilíbrio no rosto.
Não. Não é o rosto.
São as pernas.
A rapariga caminha de pernas tortas.
Enfia os pés para dentro.
Dobra ligeiramente os joelhos.
As pernas da rapariga parecem desajeitadas, mas não são.
A rapariga traz meias brancas pelo tornozelo e saltos altos que lhe estão demasiado grandes.
Quando a rapariga levanta o pé, o salto levanta voo e cai atabalhoado no chão.
O pé regressa ao sapato imediatamente.
A rapariga parece uma menina com os saltos altos da mãe, mas não é uma menina com os saltos altos da mãe.
É uma rapariga de saltos demasiado grandes e pés enfiados para dentro.
Caminha desajeitada por opção.