segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Saco roto

No outro dia andei a arrumar sacos. Fiquei horas nisto. Enfiei sacos dentro de sacos, alinhei asas de cordão, asas de algodão, asas torcidas. Separei os sacos de plástico dos de papel, separei os maiores dos mais pequenos. Pelo meio escorreguei nuns quantos sacos de plástico espalhados pelo chão e encontrei sacos verdadeiramente impressionantes porque tinham alças de tecido ou cintilavam no escuro ou eram resistentes, com reforço no fundo ou nas pegas.
Sacos de ráfia, sacos isotérmicos, sacos que são sacolas, sacões, saquetas, com pala autocolante ou cordões ajustáveis.
Alguns não têm asas nem alças. Só dão para levar ao colo, não se percebe. Ainda assim, são bonitos e recicláveis, impõem um certo respeito.
Descobri vários sacos para garrafas e sacos para presentes, sacos para livros, sacos para fatos, sacos-mochila.
Tenho centenas de sacos e não sei de onde vieram. Nem sequer sou de usar sacos.
Ando sempre com um saco de pano na mala que dá para transportar quase tudo, incluindo as minhas ilusões e reclamações, que são compactas e dobráveis em quatro. Até sei recusar sacos em várias línguas. Por exemplo:
Je n'ai pas besoin de sac.
Ik heb geen tasje nodig.
Keine Tüte bitte.
I don't need a bag.
Estou de saco cheio.
O meu esforço contra o consumo de sacos caiu em saco roto. Nunca pensei.
O que fazer com centenas de sacos que vão viver mais tempo do que eu? Voar com eles? Sufocar com eles?
Não vou deitá-los no lixo. Não vou oferecê-los a ninguém.
Qualquer coisa tem de mudar. É urgente.
Talvez a fiscalidade verde ajude. Quem sabe…
De resto, na Bélgica, continuamos a comprar sacos específicos para o lixo e para reciclar papel e embalagens. Para ficarem bem arrumados e separados por cor.
Não entendo.
Não aprovo.
Mas calo o bico.
E ponho a viola no saco.