quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Os meus livros são meus.

Os meus livros são meus. Às vezes deixam de ser meus porque os ofereço a alguém, mas depois tenho pena. Fazem-me falta. Quero-os de volta.
Também não sou de requisitar livros. Não gosto do protocolo das bibliotecas, dos números esquisitos nas lombadas, das bibliotecárias mandonas, dos prazos. E, no entanto, fui muito feliz nas bibliotecas, gostava de apreciar as lombadas, de decifrar o que traziam lá dentro, de ouvir o cochichar das páginas, de cheirar o papel. Mas não levava os livros para casa. Despedia-me deles para sempre. (Ficas aqui e eu vou para ali. Xau.) Sou uma leitora fria e também bastante preguiçosa. Se levasse os livros para casa, teria de os devolver e eu não gosto de ter um prazo para ler, não gosto de ir e voltar, não me apetece.
Além disso, os livros que levo para casa são quase meus. Sabem onde vivo, estiveram na minha cama. E eu conheço-os na intimidade. Folheei todas as páginas, li todas as palavras e dei-lhes qualquer coisa minha. Um postal, um marcador, uma dobra no canto da folha.
Os meus livros são meus. Não são de mais ninguém.
Acresce a isto que não gosto de ler livros emprestados. E acho que o desgosto é mútuo. Eles olham para mim muito direitinhos e olho-os de soslaio.  É preciso tratá-los com cuidado e memorizar que aquilo não é nosso. É chato. Fico com sentimentos de culpa sempre que caem ao chão. Estraga-me logo o prazer da leitura.
Prefiro que me ofereçam livros ou que mos recomendem. Olha, gostei disto. Lê também. Tomo nota na cabeça ou então numa lista muito antiga que anda sempre comigo. Por acaso já não anda, coitada… Perdi-a.
Não, por acaso não perdi. Roubaram-ma. Estava dentro do telemóvel.
É por isso que não gosto que me emprestem livros. Posso perdê-los. Ou então estragá-los. Ou pior: roubá-los. Um livro meu é só meu. Enrolo os cantos, dobro as folhas, anoto as gralhas. Depois passo para outro e sou capaz de o oferecer a alguém. Mas nunca me esqueço do meu exemplar.
Os meus livros são meus.