terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sapatos, pés e calcanhares

As sapatarias irritam-me. É preciso falar com a senhora da loja, pedir aquela bota naquele número e ficar à espera da resposta e depois da caixa, que nunca mais chega, que se calhar nem vai chegar. Olhe, só tenho assim. Ou então: Há, mas são verdes. 
Cheira logo a esturro e não é dos sapatos, porque os da loja são novos.
E se quero comprar botas, compro sabrinas. Se quero em preto, só há em castanho. Se estão apertados, não há maior. Paciência.
Os meus pés transpiram de angústia.
E nunca é um bom momento para experimentar sapatos. Tenho a meia rota ou as unhas feias ou os sapatos gastos ou as pernas tortas. Se encontro o que procuro, não têm o meu número. Se têm o meu número, ficam largos. Se quero o número abaixo, não há. Se há, não me servem.
Às vezes compro na mesma. Que se lixe, pode ser que alarguem. Se alargam, nunca os uso. Se não alargam, ficam para lá. Se me servem, não gosto deles. Se gosto deles, fico indecisa.
Se são confortáveis, são feios. Se são bonitos, são caros. Caneco.
Às vezes compro na mesma. Tenho pés sofisticados.
Se compro em camurça, alguém me pisa. Se compro sandálias, começa a chover. Se estou satisfeita, parte-se o salto. That's it. Estou calejada.
Talvez valesse a pena andarmos para aí descalços. Ganharíamos mais calo para a vida. E desistíamos daquela ideia de ter pés macios e hidratados. Que parvoíce.
Os meus pés servem para andar e dar pontapés. Não servem para ser bonitos nem elegantes. São o nível mais baixinho de todos. São reles e malcheirosos.
Não me chegam aos calcanhares.