quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Amor ortográfico: Caneta vibratória

A propósito de tudo isto, descobri aqui há uns dias mais um desenvolvimento prodigioso da era da técnica:

uma caneta vibratória.

O tema interessou-me, porque no geral gosto de vibrar com as novidades. Fui ver.
Era isto:

Imagem e artigo aqui (em inglês).

O conceito é mais ou menos simples, embora a solução técnica seja para mim um mistério. Trata-se basicamente de uma varinha de condão da escrita, que vibra quando deteta erros ortográficos.
Bem, não é bem uma varinha de condão, porque só deteta erros, não realiza os nossos desejos mais desejados. Mas se pensarmos bem, detetar erros ortográficos já é um dos três desejos mais desejados de muita gente, ou não? Uma pessoa está muito bem a escrever um recado para a mãe a dizer: «A mousse estava óptima» e, quando vai a desenhar o «p», a caneta estremece irritadinha. Fica talvez por realizar o desejo de corrigir o erro, mas a dúvida já é meio caminho andado.
Por mim, nada contra, eles que tremam para aí. Há de certeza quem goste de levar reguadas vibratórias. E as reguadas vibratórias, além de não aleijarem ninguém, devem ser inspiradoras. Além disso, percebo a utilidade do instrumento para pessoas imaturas, iletradas, inseguras.
No entanto, fico com pena dos erros ortográficos. Por este andar, vão ser coisa do passado, mesmo entre os alunos da primária. E eu gosto bastante de erros ortográficos. E também de gralhas, falhas, fífias, fendas. É como jogar às escondidas com o texto. Quando apanho um erro, grito contente: Tcharam, apanhado! E muitas vezes acontece-me gostar mais do erro do que da palavra aperaltada.
Por exemplo, enquanto estava à escrever este texto à mão, em vez de «erros ortográficos», escrevi «eros ortográficos». Exclamei: «Ai, que giro!», porque realmente eros é um erro amoroso. Fiquei a pensar no deus grego e cheguei rapidamente ao amor, daí ter apelidado estas minhas «postas» de «Amor Ortográfico». Pronto, não é assim uma expressão tão inovadora como «caneta vibratória», mas é um título válido e tem a particularidade de homenagear o erro.
Eu saúdo os erros. Fazem-me sentir mais carne e osso, não sei.
O Neil Gaiman, vibratório autor British, diz que a ideia de chamar a sua famosa personagem Coraline surgiu precisamente quando se enganou a escrever o nome Caroline. Para os que falam estrangeiro, vale a pena ouvir o seu discurso, que é também uma varinha de condão.
De resto, reconheço que uma caneta vibratória pode ajudar os mais pequenos nesta difícil e interminável tarefa de aprender a escrever. E, mais importante do que isso, vai com certeza gerar boas vibrações ortográficas no intelecto dos mais afetados.