quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Os números redondos ou a negação dos trinta

Não gosto dos números redondos. Soam-me a falso, não sei. Quando dou com um número redondo, hesito. No supermercado, por exemplo, não compro nada que custe exatamente 10 euros. Cheira-me logo a esturro. Um produto de jeito custa 9 euros e 90 ou 10 euros e 43. 10 euros é um preço ridículo, não compro. O mesmo se aplica ao tempo. Não gosto que me digam: Aquilo é coisa para 20 minutos. Nada demora exatamente 20 minutos, toda a gente sabe isso. Os números redondos são gordos e traiçoeiros. Um comboio com nível também não parte às 10 em ponto. A ideia em si dá-me logo vontade de rir. Ninguém levaria a sério um comboio que parte às 10 em ponto. Os comboios dignos desse nome partem às 10 e 8 ou às 10 e 23, eu jamais entraria num comboio que partisse às 10 em ponto. Ainda outro exemplo: Num bom livro ou num bom filme, a personagem principal nunca tem exatamente 30 ou 40 anos. Uma personagem como deve ser tem 31 anos ou 46, não tem 30 nem 40. Vocês dirão: Não concordo. The 40-year-old virgin é um bom filme. Sim, é um bom filme. Mas é um filme com o Steve Carell, não é para levar a sério. Os números redondos são foleiros. Na vida real, ninguém tem 40 anos. Eu ontem, por exemplo, não fiz 30. É que não fiz mesmo. 30 anos é coisa inventada, os números redondos não existem. Voltei a fazer 29. Sim, 29.
Sou repetente.