terça-feira, 18 de março de 2008

Conto infantil para adultos: O mosquito

Naquele pinheiro-manso vivia um mosquito que não sabia que era mosquito por nunca ter visto outro na vida. Uma vez que os seus olhos eram do tamanho do corpo, a única coisa que via de si próprio eram as asas negras. Assim, o mosquito sabia que não era um pássaro por não ter penas, nem uma fada por as asas não serem brancas.
Até que certo dia o mosquito viu uma abelha pousada numa flor e anunciou:
- Olha, se calhar sou uma abelha!
Ficou a ver o que fazia a senhora abelha e achou o seu trabalho interessantíssimo: sugava néctar. O mosquito foi também beber de uma flor e depois, não sabendo o que fazer com tanto néctar, engoliu-o. Era uma experiência agradável aquela; não havia nada mais saboroso no mundo.
Estava o mosquito a deliciar-se com a sua refeição, quando, de repente, a flor da ameixeira gritou:
- Sai daqui, coisa porca!
O mosquito alarmou-se com o insulto e saltou assustado. Reclamou:
- Respeitinho, seu projecto de ameixa! Sou uma abelha! Ainda te corto a raiz com o meu ferrão!
A flor riu-se e abanava as pétalas para refrescar o rosto.
- Que coisa idiota! Tu não és uma abelha, és um mosquito!
- Um mosquito?! O que é um mosquito?
- É uma coisa odiosa! E porca, justamente!
- Porca?!
- Sim, PORCA! Os mosquitos pousam na merda e comem-na!
O mosquito parecia contemplativo. Ora aí estava uma óptima ideia! Perguntou:
- E a merda é má?
- Claro! Cheira mal! Só as flores é que têm um perfume bom!
O mosquito partiu. Agradava-lhe a ideia de comer merda, mas parecia-lhe injusto que a dita fosse mal-cheirosa. Daí o seu projecto de experiência científica:
Ia encher a flor da ameixeira com merda para ver se o perfume desta passava a ser bom.
Era uma ideia fantástica. E o mosquito voava contente.
Tinha finalmente descoberto quem era. E já sabia o que comer.